PlayStation: 15 anos

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A Sony é um claro exemplo de empresa japonesa de sucesso do pós Segunda Guerra Mundial, ela começou por ser uma empresa de telecomunicações para anos mais tarde começar a fabricar cassetes e gravadores ganhando a partir daí o nome de Sony Electronics. Aparelhos eletronicos inovadores como o Walkman ajudaram a Sony a ser uma das empresas mais bem sucedidas e prestigiadas do mundo. O Walkman foi tão bem sucedido, ao oferecer de uma forma portátil música estereofónica, que se tornou um ícone da década de 70.

Enquanto que a Sony começava a ter cada vez mais notoriedade pelos seus produtos eletronicos inovadores, o mundo dos vido games encontrava-se cheio de altos e baixos, e no início da década de 90 uma guerra começou entre duas grandes companhias japonesas: SEGA e Nintendo. Havia um duelo entre estas duas no Ocidente com a SEGA conseguindo, a certa altura, ter 52% de fatia de mercado nos EUA e Europa.

Enquanto a política da SEGA era lançar um catálogo de jogos inovadores, a Nintendo como sempre, ficava tranquila e serena à espera do próximo grande sucesso do seu genial Miyamoto. A SEGA depois do sucesso estrondoso do seu Megadrive preparava-se para apresentar o Mega CD, o que fez com que a sua arqui-rival abrisse os olhos para o que se passava no outro “mundo real”. Este novo acessório, que podia ser conectado ao Megadrive, ia oferecer jogos que podiam conter 600 MB de informação, melhor qualidade de som, entre outras vantagens.

A Nintendo perante esta séria ameaça da SEGA decidiu falar com a Sony. E apesar da Sony não estar por dentro da indústria de video games já lhes tinha “emprestado” a sua tecnologia, ao fabricarem o chip de som para a Super Nintendo (SNES). A Nintendo sabia que o CD-Rom iria ser um elemento chave no futuro e convidou a Sony para construir um leitor de CD-Rom adicional para a SNES que seria vendido pela própria Nintendo.

Inicialmente este leitor adicional seria vendido pela Nintendo, mas a Sony queria também uma unidade que combinasse o console já com CD-Rom, denominada PlayStation, e que seria vendida pela própria Sony.

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Ken Kutaragi, O pai da PlayStation

Em 1975, a Sony foi buscar aquele que mais tarde seria conhecido como o pai do PlayStation. Ken Kutaragi chega à Sony cheio de ideias e era considerado pela empresa como um engenheiro brilhante. Ainda antes de pensar no PlayStation já tinha pensado em fazer outros consoles desde o tempo dos 8 bit. Um dia Kutaragi decidiu abordar Horio Ohga, presidente da Sony, e disse-lhe que a companhia devia apostar no mundo dos video games. Ohga na altura respondeu-lhe com um redundante não. Tanto o presidente como os executivos da empresa não achavam boa ideia; viam o mundo dos jogos como um mercado menor, um mercado de brinquedos, e a Sony tinha uma reputação e tradição a manter.

No entanto desta vez a Nintendo queria que a Sony lhes ajudasse a fazer frente a uma SEGA que estava se tornando forte demais.

Enquanto a SEGA preparava-se para lançar o seu Mega-CD, uma expansão para o Megadrive, a Sony e a Nintendo trabalhavam juntas num sistema que utilizava tecnologia CD-Rom, no entanto a Nintendo começava a ficar de pé atrás. A Sony seria a detentora dos direitos de fabrica da sua tecnologia, era ela que iria distribuir e editar os cds, e a Nintendo estava vendo isso com maus olhos, pois a Sony seria a grande beneficiada com esta parceria. A discussão entre as duas empresas relativo a royalities era constante e a Nintendo em segredo começava conversações com a Philips para ver se eles estariam interessados em desenvolver o tão ambicionado acessório.

Estamos em 1991, no evento CES, altura em que a Nintendo deveria anunciar a parceria com a Sony, quando surpreendentemente a Nintendo anuncia ao mundo que está trabalhando com a Philips numa tecnologia de CD. Este acordo iria mais ao encontro do que a Nintendo pretendia, tendo esta agora controle total sobre os produtos que seriam lançados pela companhia holandesa.

Imaginem a cara de Kutaragi quando teve que falar pessoalmente com o presidente da Sony, Horio Ohga, e lhe disse que tinham sido traídos pela Nintendo. Talvez tenha sido esta traição que fez com que a Sony ganhasse força para entrar na indústria de video games.

Kutaragi achava que a sua equipe já tinha adquirido conhecimentos suficientes e que a Sony poderia criar o seu próprio console. Ohga, ouviu o que ele tinha para dizer e ao invés de ter encontrado aqui uma boa oportunidade para desistirem de uma ideia que achava que não traria bons frutos paraa compahia, sentiu o seu orgulho ferido, e disse para Kutaragi criar o que tinha em mente.

Com o aval do presidente, Ken Kutaragi tinha agora a oportunidade de mostrar ao mundo um console como nunca antes se viu. Inicialmente a Sony tinha nos seus planos um console que conseguisse ler os jogos de cartuchos de SNES e os jogos em CD-Rom, mas a ideia foi rapidamente abolida.

A Nintendo ainda tentou impedir que a Sony lançasse o PlayStation no mercado norte-americano, alegando que a companhia tinha quebrado um contrato e que estaria utilizando o nome PlayStation indevidamente, uma vez que o nome pertencia à Nintendo. O tribunal acabou por indeferir todas as acusações da Nintendo contra a Sony.

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O primeiro PlayStation era compatível com os cartuchos SNES e jogos em CD-Rom. Foram construídos 200 mas acabaram ficando mesmo nas linhas de montagem.

Entretanto a Sony preferiu esperar pela próxima geração de consoles e pela consolidação do CD-Rom como midia no mercado. A esta altura começavam a aparecer os jogos de PC em CD-Rom e em 1993 a Sony anunciou então ao mundo que estava trabalhando em um console de 32- Bit que se chamava PlayStation X, ou somente PSX, com o CPU do console desenhado pelo próprio Ken Kutaragi. Pouco tempo depois a Sony formou um novo departamento, em conjunto com a Sony Corp e a Sony Music Japan, a Sony Computer Entertainment Inc.

Aquela altura pairava no ar um certo ceticismo quanto ao sucesso da Sony. Seria a Sony capaz de criar um console de jogos de sucesso? Até mesmo dentro da própria empresa havia pessoas divididas. Havia quem apoiasse esta nova aposta mas também quem olhasse para ela com desdém e desconfiança. A Sony para este segmento era uma novata. Uma empresa que se iria meter por entre duas gigantes bastante enraizadas.

A companhia de Kutaragi sabia que não ia ser fácil agradar à industria de jogos, mas o pai do PlayStation tinha um trunfo na manga.

A Sony Computer Entertainment Inc estava empenhada em criar um console como nunca antes se tinha visto. O ponto forte do PSX, e o grande trunfo de Kutaragi, seria o seu processador que possuía tecnologia capaz de gerar gráficos em 3D em tempo real. Seria naquela momento o console mais rápida do mercado e aquele que era capaz de gerar mais polígonos. Era também o console que oferecia mais ferramentas para os programadores trabalharem e claro tinha a tecnologia CD-Rom que começava a ter grande destaque.

A Sony sabia que para ter sucesso era preciso mais do que um sem número de polígonos, e apostaram em novos modelos de negócio que agradariam e muito às produtoras. O mercado era dominado pela Sega e Nintendo, e a Sony sabia que teria de fazer algo inovador para conseguir ter a atenção das produtoras.

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A arquitectura do PlayStation foi desenhada para ser fácil de programar jogos em 3D.

A Nintendo tinha Miyamoto, a SEGA tinha os seus grandes jogos arcade, mas a Sony como não tinha na sua empresa os grandes produtores de jogos teve que falar com várias editoras e produtoras e dizer porque é que elas deviam apostar naquele novo console que seria capaz de reproduzir gráficos em 3D.

Inicialmente as coisas não correram bem, a maioria das produtoras ainda estavam muito presas ao 2D e achavam que seria muito caro fazer jogos em 3D num console que não sabiam se iria ter algum sucesso. No entanto, num golpe de sorte, surgiu um dos jogos que ajudou a formentar a tecnologia 3D, um jogo da concorrente SEGA, mais propriamente Virtua Fighter no Saturn, que fez com que as produtoras começassem a olhar para os jogos em 3D de uma outra forma.

Foi então que as produtoras olharam para o console da Sony e viram uma oportunidade para fazerem jogos em 3D, e não foram apenas os jogos de luta, mas muitos outros géneros. Além disso a Sony não tinha estúdios internos o que queria dizer que as produtoras externas não tinham fortes concorrentes. Em pouco tempo a Sony conseguiu ter a seu lado 250 companhias japonesas, entre as quais destacou-se inicialmente a Namco com os exclusivos Ridge Racer e Tekken, e mais tarde a Squaresoft (hoje conhecida como Square Enix). A companhia comprou também a europeia Psygnosis por 48 milhões de dólares e mudou-lhe o nome para Sony Interactive Entertainment, que mais tarde ficou conhecida como o Studio Liverpool.

Em Dezembro de 1994 a Sony lançou o PlayStation no Japão onde conseguiu vender em apenas três meses um milhão de consoles. O próximo passo para a Sony seria ter o mesmo sucesso nos Estados Unidos e Europa. E para isso criou um pavilhão na E3 onde não medie orçamento gastando 4 milhões de dólares.

A estratégia para a campanha de marketing da Sony estava focada em um público mais sofisticado, queria atingir um público mais adulto colocando mensagens nos seus anúncios publicitários que fariam as pessoas pensar.

Depois de uma forte campanha publicitária a Sony lançou no dia 9 Setembro de 1995 o PlayStation nos Estados Unidos e no dia 25, do mesmo mês, lançou-o na Europa. O console vendeu no primeiro ano 800 mil unidades em território norte-americano, número bastante aceitável se tivermos em conta que a Sony não tinha nome na indústria.

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Double Life – Um dos anúncios mais premiados da Sony

Inicialmente o console recebeu títulos como Ridge Racer, Tekken, Toshinden, Crash Bandicoot, entre outros. Mas foi Final Fantasy VII que catapultou o PlayStation ao sucesso.

Apesar de muitos fãs e de muitos detratores, o fato é que o PlayStation está intimamente ligada com as mudanças de como a sociedade passou a olhar para os video games. A indústria deixou de ser vista como o patinho feio, para passar a ser uma indústria de entretenimento que em poucos anos conseguiu empatar com a indústria da música e do cinema.

Os jogos deixaram de ser vistos como uma brincadeira de criança para passarem a ser um meio de entretenimento interativo que toma parte do quotidiano da vida moderna das pessoas de todas as idades.

Apesar de já não se produzirem jogos para o PSone, como ficou conhecido mais tarde depois de uma remodelação, ainda se encontra à venda nas lojas aquele que deu início a uma nova era no mundo dos video games.

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