[Entrevista] Helio Perroni Filho

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Olá pessoal.

Estamos aqui hoje conversando com Hélio “Grande Mokona”, um dos membros fundadores do CAVVES e colaborador da saudosa revista Animax.

O assunto de hoje será sobre esse período “dentro” da Animax.

Hélio, bom dia. Para começar se apresente para o pessoal  do CAVVES.

Olá pessoal, meu nome é Helio Perroni Filho e eu “trabalhei” como colaborador da Animax e depois da Anime>DO 2000 entre 1996 e 2001. Digo “trabalhei” entre aspas porque minha atividade era completamente informal: na Animax eu era recompensado com uma assinatura da revista, na AD2K eu até recebia um salário, mas estava mais para bosla de estagiário.

Quando e como começou a sua parceria com a Animax?

Para responder essa pergunta vamos ter de fazer uma pequena viagem no tempo. Antes de existir Internet, era comum usarmos a rede telefônica como meio de comunicação direta entre computadores. Havia esse dispositivo chamado “modem”, que traduzia mensagens binárias do computador em sequências de assobios e estalos. Esses ruídos podiam ser transmitidos através da rede telefônica, e depois traduzidos de volta para dados pelo modem do computador de destino.

Algumas pessoas deixavam seus computadores ligados na rede telefônica à espera de ligações de outros computadores; quando estabeleciam contato, esses computadores disponibilizavam serviços como download de arquivos e distribuição de mensagens. Eram os Buletin Board Systems, ou BBS’s.

Os BBS’s foram os servidores de uma primeira rede mundial de computadores: assim como hoje há sites e fórums especializados em todo tipo de assunto, naquela época havia BBS’s espalhados pelo mundo inteiro, grandes e pequenos, alguns de interesse geral, outros voltados para áreas específicas, como games, temas técnicos e é claro, anime e mangá.

Em 1996 eu ganhei meu primeiro PC com modem, e por coincidência na mesma época o pessoal da Animax começou um BBS voltado exclusivamente para fãs de anime/mangá, o Anime Japan Fury BBS. Na época eu morava em Vitória no Espírito Santo, e a máquina hospedando o BBS ficava em São Paulo, então para acessá-la era preciso fazer uma ligação interurbana… Por isso eu acessava à noite, quando o custo da ligação era menor. Essa foi a origem dos hábitos notívagos da geração BBS, e depois da primeira geração Internet!

Por falar em Internet, também em 96 eu contratei minha primeira conta de acesso. Nessa época  a revista Animax tinha uma seção “Mangá Eletrônico”, onde eles publicavam links para sites de anime/mangá na Internet. Inspirado por isso, eu também comecei a escrever pequenas críticas sobre os bons sites de anime/mangá que eu encontrava, e postava essas críticas no fórum do AJF BBS com o título “Mangá na Internet”. O Sérgio Peixoto (editor da Animax) viu meus posts e perguntou se eu não queria fazer a coluna de Mangá Eletrônico no lugar do José Roberto, que na época escrevia a revista junto com o Peixoto.

E de onde saiu o nome da sua “coluna”?

A coluna já existia na Animax antes de eu me tornar responsável por ela, inclusive ela foi inspiração para a série de posts no AJF BBS que chamaram a atenção do Peixoto. Se não me engano as primeiras edições foram escritas pelo Zé Roberto, então deve ter sido ele quem bolou o nome, mas nunca soube de onde ele o tirou…

Para a galera de hoje, que não viveu a época da internet discada, deve parecer muito fácil ficar procurando dicas na NET. Conte como era feito esse trabalho?

Não era muito diferente de como fazemos hoje em dia, eu entrava no Altavista ou Yahoo! (as melhores search engines da era pré-Google), digitava alguns termos de busca e inspecionava os links que apareciam. Ou então entrava no Anime Web Turnpike, que era um “diretório” de sites, escolhia um tema e dava uma olhada nos sites correspondentes. A diferença é que agora o volume de material é muito maior, as ferramentas de busca mais afiadas, e os blogs e fóruns cumprem o papel de apontar as novidades mais interessantes. Acho que hoje em dia uma revista de anime/mangá é um canal totalmente desnecessário, pelo menos para quem sabe falar Inglês (e mesmo quem só fala Português não fica de fora das coisas mais importantes).

Você era remunerado pelo serviço?

Na Animax não, inicialmente eu era “pago” com uma assinatura gratuita do BBS (o que foi ótimo, pois naquele tempo  eu jamais poderia pagar pelo BBS e pela minha conta de acesso à Internet), e depois que o BBS naufragou, com uma assinatura da revista.

Então era de “fã para fã” mesmo? (B.A.C na veia!!!)

Não era um serviço completamente gratuito, já que eu era recompensado de alguma forma. Mas com toda certeza haveria formas melhores de ocupar o meu tempo, se o meu interesse fosse o retorno financeiro. E de fato, eventualmente eu comecei a pensar em questões como dinheiro e sucesso profissional, e esse foi o começo do fim da minha carreira de otaku militante…

Você recebia cartas dos leitores com sugestões, elogios, reclamações…?

Háh! Que nada. Talvez eu esteja enganado, mas minha impressão é que o público leitor de revistas de anime não tinha muito interesse em saber sobre quem escrevia as matérias que eles liam. Mesmo na AD2K, em que escrevi críticas de séries além de matérias sobre Internet, nunca recebi e-mail de leitor, nem soube que tivessem mandado alguma carta dirigida a mim especificamente. Talvez para os meus colegas, que moravam em São Paulo e podiam comparecer a convenções, as coisas fossem diferentes, mas vivendo na Capitania do Espírito Santo era impossível ter um contato mais direto com a “comunidade”.

Depois da Animax, você continuou envolvido com revistas ou anime, ou ficou apenas no “4fun”?

Depois da Animax fui chamado para escrever na Anime>DO 2000. Foi um trabalho muito mais variado e satisfatório do que o que eu fazia antes, pude falar sobre todos os temas que não tinha espaço para discutir na Animax, como rádios de anime e RPG’s de mesa, além de escrever críticas de séries de anime e mangá. Fiquei especialmente feliz de poder falar do mangá de El-Hazard, minha série favorita de todos os tempos.

Porém com o tempo comecei a sentir que aquilo era o mais longe que poderia chegar. Eu percebia que sempre pegava as séries de “segunda linha” para fazer, as séries mais de vanguarda (tipo Lain etc.) sempre iam para os redatores Paulistanos. Mas nunca pensei que isso fosse bairrismo, eu lia as matérias deles e percebia que o meu estilo de escrita estava em um nível abaixo. Por fim, decidi que era hora de levar minha graduação em Ciência da Computação a sério: “pedi pra sair” da AD2K e peguei um estágio no Centro de Processamento de Dados da minha universidade. Nesse estágio eu ganhava menos do que na AD2K, mas dez anos depois sinto-me feliz de ter tomado aquela decisão.

Lembro quando “garimpávamos” a internet em busca de MP3”s de animes e aberturas (não dava  e nem existia baixar o episódio) e sonhávamos com o dia que teríamos mangás nas bancas, agora que essa nova era chegou o que você acha?

Acho muito bom, mas para mim, pelo menos, chegou tarde. Dez anos atrás estaria indo à falência comprando tudo o que sai nas bancas – ou alternativamente, adotando o estilo de vida hikikomori e passando dias e noites na frente do PC, assistindo animes, lendo mangás e jogando MMORPG’s. Mas na minha adolescência não tinha nada isso, então o que me restou foi estudar e arrumar emprego. Agora que as coisas chegaram já é muito tarde, estou empregado e casado, estudo Japonês, pratico Aikido e pesquiso alguns tópicos de computação por conta própria; no tempo que sobra dá só pra assistir algum anime e olhe lá.

Na verdade, hoje penso que mesmo aquele tempo que gastamos à caça de “fragmentos de cultura” (quem souber de onde tirei essa ganha um doce!) foi um desperdício. Se pudesse voltar atrás teria deixado de lado todas aquelas polêmicas sobre Hentai e Cavaleiros do Zodíaco e feito algo mais produtivo com meu tempo, como estudar Japonês ou eletrônica. Mas enfim, eu estava apaixonado pelo anime/mangá, e era jovem e tolo demais para perceber que aquilo não ia dar em nada…

Por isso, mesmo não podendo aproveitar quase nada desta “nova era”, acho bom que ela tenha chegado, justamente para que não existam mais “otakus militantes” como nós fomos. Acho muito melhor que a garotada possa assistir, ler ou jogar o que der na telha, ficar satisfeita e seguir adiante sem ficar fetichizando as séries como muitos de nós fizemos naquela época.

Está colecionando alguma coisa?

Eu estava colecionando Berserk, e lendo Bakuman que minha esposa comprava. Mas agora Berserk entrou em hiato e Bakuman acabou, então neste momento não estou lendo nada.

Hélio, gostaria muito de agradecer o seu tempo e deixar esse espaço para algum recado.

Agradeço a oportunidade e quem quiser entrar em contato comigo, meu e-mail é [email protected] .

Ah, e assistam Suisei no Gargantia, é a primeira série de robô gigante desde Macross que estou realmente gostando de assistir. O roteiro é muito bom e até agora ninguém tirou nenhuma psico-baboseira da bunda para justificar a existência dos robôs, só por isso já vale a pena.

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